Por Marcelo Albuquerque
A Porta Marina, entrada principal do parque, até a fatal erupção do Vesúvio em 79 d.C., situava-se rente ao porto da cidade, na costa do mar, e atualmente está a quilômetros de distância. É por ela que se acessa o parque pela estação de trem principal e bilheteria. De acordo com o website oficial do Parque Arqueológico de Pompeia[1], a Porta Marina é semelhante a um bastião, e junto com Porta Herculano é uma das mais imponentes dos sete portões de Pompéia. Possui dois arcos de abóbadas de berço combinados em uma única estrutura em opus caementicium, sendo que uma passagem se destinava a pedestres e a outra, maior, para veículos, separadamente.
Entrada da Porta Marina do sítio arqueológico de Pompeia, a partir da estação de trem. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Entrada da Porta Marina do sítio arqueológico de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Entrada da Porta Marina e calçamento original romano. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Entrada da Porta Marina abobada de concreto pozolana. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Saída da Porta Marina, com detalhes das camadas estruturais das paredes. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Saída pela Porta Herculano, em direção à Via delle Tombe e Vila dos Mistérios. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Ao entrar pela Porta Marina, os calçamentos das ruas chamam atenção pela preservação de ricos detalhes. As ruas pavimentadas de Pompeia possuíam passadiços elevados para que os pedestres atravessassem com maior conforto, evitando as águas torrenciais e o esgoto da cidade. Em algumas pedras dos calçamentos podemos ver as impressionantes marcas dos aros metálicos das rodas dos carros romanos, que tinham um padrão de eixo de 1,40m. As fontes de água também chamam atenção e refrescam os visitantes que enchem as ruas das cidades.
Rua e passadiço de Pompéia, com as marcas das rodas de carros. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Passadiço de rua de Pompéia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Marcas das rodas de carros em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Fontes em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
O Fórum de Pompeia remonta ao período de ocupação samnita, quando se intensificou a monumentalidade arquitetônica de seus edifícios. Possui uma grande forma retangular, tendo ao norte o Templo de Júpiter (tríade capitolina) e, ao sul, no acesso para a Porta Marina, a basílica. Na praça central encontrava-se o grande pórtico com colunatas ladeando o fórum. Era cortado pelo cardus maximus e decumanus maximus, sendo o primeiro chamado Via del Foro e o último Via dell’Abbondanza. Ao contrário de uma típica cidade romana planejada, o fórum principal de Pompeia não se localizava próximo ao centro geográfico da cidade, mas estava deslocado para o oeste, no sentido da Porta Marina. À medida em que a cidade foi se expandindo, esta tomou a direção da Via dell’Abbondanza, ao leste, na região do anfiteatro. Na entrada do Fórum de Pompeia destacam-se as imponentes ruínas da basílica que datam do século II a.C.
Planta do Fórum de Pompeia, adaptado de August Mau por Marcelo Albuquerque. Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Pompeii. Acesso em: 12 jan 2018.
Fórum de Pompéia. Fonte: Google Earth. Acesso em: 20 set. 2016.
Basílica de Pompeia. Ao fundo a colunata coríntia do tribunal e alto podium. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Basílica de Pompeia, com as bases das colunatas, dando uma visão das dimensões das naves. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Pórtico da Basílica de Pompeia, com colunatas dóricas e jônicas. Vemos uma base para esculturas antecedendo a colunata dórica. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Fórum de Pompeia com o Monte Vesúvio ao fundo. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Templo de Júpiter, com a tríade capitolina (Júpiter, Juno e Minerva), no fórum. Concreto e tufa. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Templo de Júpiter, com a tríade capitolina (Júpiter, Juno e Minerva), no fórum. Concreto e tufa. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Podium do Templo de Júpiter, em frente ao Maccelum, no fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Além do fórum e seus templos, destacam-se outros edifícios como o Pistrinum (moinho), o Macellum (mercado de alimentos), as termas e pequenos restaurantes.
Maccelum, no fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Maccelum, no fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Depósito de artefatos situado no Fórum de Pompeia, local de trabalho e catalogação arqueológica. Encontra-se nesse local moldes de gesso de corpos humanos. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Ânforas e vasos cerâmicos diversos no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Carroça de madeira no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Corpo de criança no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Artefatos no depósito do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Latrina do Fórum de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Arco de Calígula, ao norte do fórum, na Via del Foro. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Como vimos, o decumanus maximus de Pompéia é chamado Via dell’Abbondanza, uma grande via que atravessa a cidade, desde o Fórum até a Porta de Sarno. Por ser uma das vias principais, e mais valorizadas da cidade, é a que melhor retrata o estilo de vida das pessoas que viveram na cidade. Ao andar pela via, percebe-se os projetos de restauração das fachadas dos edifícios protegidos por estruturas metálicas e tapumes, em especial os edifícios comerciais de dois andares dos tempos da erupção. Os andares térreos acolhiam duas lojas distintas, que não podemos ver nas fotografias abaixo, escondidas atrás dos tapumes das obras. Os andares superiores acolhiam restaurantes, que propiciavam uma bela vista da movimentada via logo abaixo.
Edifício de lojas e restaurante na Via dell’Abbondanza. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Na mesma via é possível admirar os numerosos grafites rabiscados e pintados nas fachadas de algumas casas, como na Casa de Aulus Trebius Valens, nos oferecendo informações sobre os costumes e sobre a língua latina vulgar, com pequenas diferenças do latim erudito.
Inscrições em latim na Casa de Aulus Trebius Valens, na Via dell’Abondanza. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Inscrições em latim na Casa de Aulus Trebius Valens, na Via dell’Abondanza. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Os thermopoliuns eram uma espécie de bar e lanchonete que serviam bebidas quentes e frias. Em Pompeía existem inúmeros e são facilmente identificados nas ruas. Um dos mais famosos e preservados é o thermopolium de Vetutius Placidus, localizado na Via dell’Abondanza, o decumanus maximus da cidade. Pratos quentes e frios eram vendidos em um balcão de alvenaria em ‘L’ contendo vasos de terracota. Não seria exagero dizer que se equivalem aos nossos fast foods contemporâneos.
O Thermopolium de Vetutius Placidus. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Lararium pintado no thermopolium de Vetutius Placidus. Na pintura, a figura central é o gênio da casa, que realiza um sacrifício sobre um pequeno altar. No lado esquerdo está o deus Mercúrio, o deus do comércio, enquanto na extrema direita está Baco, ou Dionísio, o deus do vinho. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Thermopolium de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Thermopolium de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Thermopolium de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Pompéia conta com um anfiteatro, erguido entre 80 e 70 a.C. Sua arena foi escavada, estando a alguns metros abaixo do nível das vias ao redor. Ela tem uma escadaria de acesso às arquibancadas bastante peculiar, não havendo em outra arena romana estrutura semelhante. Em 62, um tremor menor, frequentes na Campânia, fez danos consideráveis na cidade. Os arcos de alvenaria que reforçam os corredores internos do anfiteatro, abaixo das arquibancadas, foram construídos após esse evento para consolidar os arcos e abóbadas originais de concreto. A Vulcanalia, festa do deus romano do fogo Vulcano (Hefesto), havia sido comemorada no dia anterior, ironicamente. O anfiteatro de Pompeia foi o modelo para o anfiteatro da Universidade de Yale (Yale Bowl), EUA. Suas arcadas se comparam com o podium do templo de Fortuna Primigenia em Palestrina, construção icônica que apresenta a tecnologia do concreto romano.
Vista externa do anfiteatro, com as arcadas cegas da fachada muito bem preservadas e sua peculiar escadaria de acesso às arquibancadas. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Vista externa do anfiteatro. À direita, a grande palestra. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Nichos do Santuário de Fortuna Primigenia em Palestrina, Itália. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Sanctuary_of_Fortuna_Primigenia_in_Palestrina_(Praeneste). Acesso em: 20 set. 2017.
Porta de acesso para a arena do anfiteatro. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Calçamento de pedras poligonais do corredor do vomitorium que leva à arena. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Arcos de tijolos colocados após o terremoto de 62 d.C., como forma de consolidar a estrutura de concreto. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Dentro da arena do anfiteatro. Na ocasião, estava instalado uma grande pirâmide abrigando a exposição dos corpos de gesso. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Foto aérea do anfiteatro. Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://de.wikipedia.org/wiki/Pompeji#/media/File:Pompeya.Anfiteatro_y_palestra_retouched.jpg. Acesso em: 20 set. 2016.
Um fato importante da história dessa arena foi o conflito entre torcidas de gladiadores, no ano de 64 d.C., entre Pompeia e Nocerini, uma cidade da região da Campânia. A pintura abaixo, de uma casa de Pompeia, representa a luta que se inicia nas arquibancadas e se estende para as ruas. O artista imagina a arquitetura, tanto que o número de arcadas cegas que vemos na fachada não corresponde à realidade.
Afresco que descreve a luta entre o Pompeia e Nocerini. Fonte: Wikipédia. Disponível em: https://it.wikipedia.org/wiki/Pompei_antica. Acesso em: 20 set. 2016.
O Fórum Triangular, mais antigo, se origina no período Samnita e possuia um templo de ordem dórica que ocupava a parte sul do fórum. Uma colunata também da ordem dórica foi construída ladeando o fórum, se encontrando em um alto pórtico da ordem jônica erguido de frente para a rua, formando assim uma entrada monumental para o fórum e para o Grande Teatro.
Pompeia: Fórum Triangular, grande teatro, quadripórtico e pequeno teatro. Fonte: adaptado do Google Earth,
Vista das arcadas do Grande Teatro a partir do Fórum Triangular. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
No pé de uma das colunas da colunata encontra-se uma bacia do mármore de Carrara e, ao lado dela, a base (podium) de uma antiga estátua que contém uma inscrição dedicada a Marcus Claudius Marcellus, o sobrinho de Augusto falecido precocemente, ao qual foi dedicado o Teatro de Marcelo em Roma.
Entrada do Fórum Triangular e a bacia de mármore de Carrara. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Podium para monumento, com a inscrição “M,CLAUDIO.C.F.MARCELLO.PATRONO”, no Fórum Triangular. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
No fórum se encontram as ruínas de uma pequena estrutura redonda, semelhante a um monóptero, ou tholos, com colunas dóricas, protegendo a boca de um poço.
Estrutura do Fórum Triangular. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
A Casa dos Gladiadores foi escavada pela primeira vez em 1899 e situa-se perto dos limites da muralha. Compõe-se de uma grande colunata de quatro lados localizada abaixo do Fórum Triangular e atrás do palco do Grande Teatro, conectado a este por uma área porticada na qual o público podia caminhar e conversar durante os intervalos teatrais. Era usada como residência a partir do primeiro século antes de Cristo. É possível que o local fosse usado como espaço de reunião e treinamento dos gladiadores antes de se dirigirem ao anfiteatro.
Vista da palestra a partir do Fórum Triangular. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Vista da palestra a partir do Fórum Triangular. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Palestra e Casa dos Gladiadores. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Ao lado da Casa dos Gladiadores, encontra-se o Grande Teatro e o Pequeno Teatro do Fórum Triangular, ou Odeon, do século I a.C. Este último era coberto, em toda a sua extensão, por uma estrutura de madeira.
Pequeno teatro ou Odeon de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Detalhe do atlante no pequeno teatro de Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Sobre a higiene pessoal e as casas de banho, as casas mais abastadas possuíam água corrente, mas nem todos os pompeianos tinham água corrente em suas casas. Sendo assim, os cidadãos, de forma geral, ricos e pobres, frequentavam os banhos públicos. Os banhos também eram utilizados como local de encontros sociais e conversas. Como vimos anteriormente (ver Termas e banhos públicos), os estabelecimentos de banhos ofereciam banhos quentes, mornos e frios, piscinas, saunas, massagens, cuidados pessoais, arenas esportivas e espaços abertos. Homens e mulheres tinham ambientes separados. Nas Termas do Fórum de Pompéia é possível observar os belos estuques que ornamentam as paredes, em especial nas abóbadas dos banhos. Na Roma Antiga, as peças escultóricas agregadas aos edifícios, como os frisos, cariátides (fuste de colunas com forma de figuras femininas) e atlantes (figuras masculinas que apoiam o peso do entablamento, referente à Atlas), também eram pintados com cores vivas. Assim como os gregos, podiam apresentar nos frontões conjuntos escultóricos complexos.
Apodyterium dos banhos do Fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Tepidarium dos banhos do Fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Tepidarium dos banhos do Fórum e detalhe dos nichos enquadrados com figuras de atlantes em estuques. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Tepidarium dos banhos do Fórum e detalhe dos temas mitológicos em estuques. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Banheira do caldarium dos banhos do Fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Abside do caldarium dos banhos do Fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Área externa (palestra) dos banhos do Fórum. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Fragmento de hipocausto em Pompeia, na região do anfiteatro. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Pompeia é famosa pelas representações de cenas e posições sexuais em suas casas de prostituição, e o Lupanário é a casa de prostituição mais conhecida. Ao andar pelas ruas, podemos encontrar diversas representações do deus Príapo, que porventura é confundido e interpretado erroneamente como sinalização para o rumo das casas de prostituição. Príapo era filho dos belos deuses Afrodite e Dionísio. Hera, receosa da beleza que poderia ter o filho de tais deuses, tocou o ventre de Afrodite e assim o deus nasceu feio e disforme, com chifres, orelhas grandes, cauda e pés de bode e um pénis grande e desproporcional. Afrodite o abandona num monte, mas o pequeno deus fora encontrado e protegido por pastores, semelhante ao mito de Páris. Sendo assim, Príapo, um deus bom, passou a ser venerado como um deus de fertilidade, protetor das hortas, jardins, lares e animais. Por isso muitas residências exibiam pênis esculpidos ou em estuque nas suas fachadas, como amuleto de boa sorte e prosperidade.
Representações fálicas em alusão ao deus Príapo em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
Representações fálicas em alusão ao deus Príapo em Pompeia. Foto: Marcelo Albuquerque, 2015.
[1] Disponível em: http://www.pompeiisites.org. Acesso em: 06 jan 2018.
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